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Quique Flores

O Benfica disse adeus ontem aos seus adeptos nesta edição da Liga 2008/2009, dando o golpe de misericórdia nos vizinhos Belenenses. A equipa encarnada fez um bom jogo, mesmo entrando a perder, dando sequência à boa vitória alcançada em Braga. Termina a Liga em grande forma, fazendo bons jogos e marcando muitos golos.

derby de ontem ficará marcado por algumas despedidas. Em primeiro lugar a dos rivais de Belém, que pagaram com a descida de divisão os muitos erros cometidos durante a época. Erros desnecessários e que não podem ser compatíveis com a gestão de um clube com os pergaminhos dos Belenenses. Depois de uma excelente campanha liderada por Jorge Jesus, o Belém não poderia ter entregue o seu futebol às mãos de um sucateiro como Casimiro Mior, que juntou o verde-e-amarelo ao azul do Restelo e fez do Belém uma escola de samba. Fazemos votos para que o clube se (re)organize e regresse o quanto antes ao convívio com os maiores do futebol nacional. Um sinal de esperança no futuro: Rui Jorge. Se a estrutura dirigente apostar no talento do ex-lateral esquerdo, o clube e o futebol em geral terão muito a ganhar.

Segundo os jornais, Reys, Katso e Luizão também estarão de saída. O comportamento do central brasileiro no final do jogo também foi condizente com as propaladas notícias. O próximo mês nos dirá qual o destino, se Inglaterra, se a rectaguarda da formação da Luz novamente…

Contudo, mais indisfarçável que a dos demais foi a forma como Enrique Sanchéz Flores se despediu dos adeptos do Benfica. Se já desde a  derrota no Funchal e o empate com o Trofense se anunciara a sua saída, imaginamos que este final de campeonato não tenha sido fácil. As notícias a anunciarem o fim do seu consulado, os artigos de opinião em seu desfavor escritos pelos mesmos que afirmavam que Quique era um bom treinador aquando a sua chegada, e as constantes manchetes de jornal a indicarem a sua sucessão por Jorge Jesus, só poderão ter transformado os últimos dias de Quique em Lisboa num autêntico purgatório. Ainda assim, o treinador montou uma estratégia para a batalha de Braga que reduziu o futebol atacante de Jesus a mero discurso e acertou com este as suas contas em silêncio, vencendo categoricamente.

E, afinal, será apenas Quique mais um treinador de futebol?

Afilhado de Alfredo Di Stéfano, este madrileno nasceu no seio de uma família ligada ao mundo do espéctaculo. Filho de Carmen e sobrinho de Lola Flores, cantoras de Flamenco, Quique cedo percebeu o que era estar sob as luzes da ribalta. Atingiu o seu apogeu na lateral do Real Madrid, mas foi em Valencia que acabou por se notabilizar e fixar residência, ajudando o clube local enquanto jogador durante dez anos, e mais tarde orientando-o por mais dois. Cedo mostrou não ser uma figura convencional, fugindo bastante à retórica habitual dos terinadores de futebol, fazendo por vezes as delícias dos jornalistas.

Como proveniente de uma realidade futebolística diferente, onde a bola convive entre os melhores artistas da modalidade, Quique Flores chegou ao Benfica pela mão de Rui Costa com a áurea de ser um bom treinador. Jovem, metódico, disciplinador, com a experiência de haver treinado equipas nas Ligas espanhola e dos Campeões, Quique era visto como o Homem-chave que faria a perfeita conexão entre Vieira e Rui Costa. Conseguiu trazer jogadores à partida considerados inimagináveis para o futebol português, como Aimar ou Suazo. Venceu o Nápoles e o Sporting no começo da época, e a equipa ganhou motivação. Parecia que tudo se conjugava a seu favor.

A eliminação precoce da Taça de Portugal em Matosinhos, antecida pela desastrosa campanha na UEFA onde a goleada de 5 – 1 com o Olimpiacos e a derrota caseira com os desconhecidos Metalist (!) começaram por apontar o caminho da porta dos fundos ao treinador espanhol. Face à constante impaciência que muito caracteriza os adeptos encarnados, Quique nunca perdeu a calma e soube sempre reagir perante o exterior. A sua imagem não se desgatou imediatamente perante os media.

Como facilmente se poderá concluir, Quique empresta ao futebol o lado cor-de-rosa que poucas vezes nele se encontra. O seu espírito afável e simpatia intrínsecos despertaram a atenção de outros sectores da actividade jornalística e o madrileno tornou-se uma vítima das gossip magazines portuguesas. Não terá sido com a maior aceitação que o clã Flores terá reagido ao ver a reportagem sobre os casos que Quique teve em Lisboa, como noticiaram a Caras e o Correio da Manhã.

Dias de Paixão em Lisboa

A pergunta impõem-se: terá o treinador do Benfica contribuído para esta curiosidade à sua volta? Sim. Não apenas pela sua personalidade aberta que o mostra ao mundo como um homem interessante, mas também pela total disponibilidade para as solicitações de que foi alvo. Quique Flores é um treinador posh, que sabe o que é estar sobre as atenções e que não nega o seu contributo para a indústria do espectáculo. Será esta postura divergente dos superiores interesses do clube? Não nos parece. Até porque qualquer treinador que passe pelo clube da Luz será sempre alvo de assédio por parte do exterior. A diferença entre Quique e os demais é apenas uma questão de estilo.

A última cena

Apesar de partir da aventura em Lisboa apenas com a Taça da Liga que Lucílio o ajudou a levantar, Quique deixará saudades. Prova disso foram os cartazes e tarjas de apoio à continuidade do espanhol no banco do Benfica. Fazendo jus à sua condição de homem com nível, o espanhol despediu-se dos adeptos de forma emocionada e agradeceu a oportunidade por ter treinado o Benfica. Quique Flores foi uma lufada de ar fresco no panorama dos treinadores da Liga nacional, num futebol em que a cátedra dá pelos nomes de Vieira, Loureiro ou Pinto. Um homem sereno, calmo, pouco intempestivo, que nos momentos difíceis não fraquejou face aos críticos. Poderá ter tido pouca sorte, poderá ter comitido alguns deslizes (como quando encostou David Luiz à esquerda e  levou um banho de bola em Alvalade), poderá não ter sido devidamente apoiado, poderá ter encontrado muitos obstáculos e sai como mais um treinador que passou pelo Benfica sem sucesso. Encontrará a sua melhor sorte no seu país natal, seja num Bétis ou Atlético Madrid, porque a merece.

Portugal perde um gentleman. E o Benfica a oportunidade de dar sequência a um projecto. Buena suerte Quique!

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Quo vadis, Glorioso?

Já há algum tempo que disse, pessoalmente, adeus ao título ou a qualquer esperança de lá chegar. A própria Champions é muito complicada, nomeadamente com a derrota frente à Briosa. Há que pensar não a próxima época mas aquilo que queremos para o Benfica nos próximos 15/20 anos. É que é nesse lapso temporal que, retrospectivamente, encontramos as causas profundas daquilo que levou o Benfica de vencedor crónico ou candidato sério a uma equipa sem chama em que apenas a pré-época é vivenciada com euforia pelos adeptos, qual crença estival num qualquer nome sonante ou numa qualquer “equipa-maravilha”. O que aqui vão ver são uma série de situações que me parecem constituir o âmago dos falhanços na Luz, o que leva o meu Benfica a estar, cronicamente, a constestar tudo e todos em Março/Abril.

Primeiro – as sucessivas direcções têm seguido políticas desportivas erráticas, com demasiada centralidade na figura, quase sempre obscura do Presidente, sem que haja um plano estrutural com a definição clara de metas, objectivos e de uma ideia para o Benfica (essa pode ser a construção de equipas maravilha, com gastos avultados no mercado; a aposta na formação, com resultados a médio/longo-prazo; a detecção de jogadores de talento, dentro ou fora de Portugal, a custo baixo (e lembrar-me que foi Rui Águas, olheiro do Benfica, que descobriu o Andrés Madrid e o Rodriguez para o Braga, a custo muito baixo). Por mim, a linha seria uma sinergia desta duas últimas directrizes, mas numa lógica diferente da seguida em Alvalade, visto que os jogadores deveriam de engordar mais na Luz e só depois alguns deveriam ser transferidos – porque o futebol é mais do que um balanço ou uma demonstração de resultados e só as vitórias alimentam o sonho!

Segundo – continuo na óptica da direcção, contestando a política de comunicação do clube e a sua centralização no suposto papel de Joana D’Arc da credibilização do futebol português. Aceito que tanto o Bnefica, como o Sporting e o Porto, são, ciclicamente, ajudados por arbitragens habilidosas. No que concerne à corrupção o Benfica não pode continuar a machucar a sua imagem, olhando para o que aconteceu atrás. Tendo acontecido, o que de facto acredito e que pode explicar o início do sucesso do FCP (até numa tentativa, bem-sucedida, de destronar o Benfica de papel de líder do panorama futebolístico, ao nível dos dirigentes) mas não a totalidade do seu sucesso, cujos méritos próprios são grandes e aliceçados numa superioridade futebolística raramente posta à prova! O que o Benfica deve fazer é, em sede própria e dialogando com todos os intervenientes, pugnar por uam liga profissional mais competitiva (porque não o regresso dos 18 clubes na primeira liga e duas séries de 10 clubes na 2ª Liga), mais rentável (uma política de marketing mais coerente, com o nome da Liga a ser sempre o mesmo, qualquer que seja o patrocinador – por exemplo, podíamos ter a SuperLiga (1ª divisão) e a Liga (2ª divisão)), mais próxima dos adeptos (com bilhetes a variarem entre uma baliza miníma – 3 euros – e um tecto máximo (35 euros)), televisionada de forma distinta (existir um programa de lançamento da jornada às quintas, próximo do que acontece na Premier League, com entrevistas a um jogador – os que se destacam nas mais diversas equipas – e diversas curiosidades sobre os clubes e as cidades do futebol nacional), a decorrer a horas próprias e concentrada em dois dias (excepcionalmente em 3) – a jornada devia ter apenas um jogo ao sábado (um dos grandes) e todos os outros ao domingo (entre as 15 e as 18:30). É nesta política de credibilização que o Benfica deve apostar, apoiando ainda, em sede própria, a profissionalização dos árbitros, o que levaria a que os mesmo fossem mais responsabilizados, com um salário base mais comissões por jogo arbitrado indexadas à classificação nos jogos.

Terceiro – Ainda a Direcção. A política de comunicação do Clube é desconexa, não tem qualquer fio condutor e contribui apenas para que o Benfica seja o bobo da corte futebolística nacional, com comunicados no mínimo estapafúrdios e com atitudes que não merecem qualquer comentário. Considero que para lá de uma política de comunicação mais virada para a comunicação com os benfiquistas, sem alimentar polémicas e fortemente marcada pela intervenção dos jogadores, o Benfica deve de utilizar a Benfica TV para promover, de forma séria, o Clube, com mais informação, com mais entretenimento de qualidade e um melhor acompanhamento das modalidades.

Quarto – A estabilidade de qualquer equipa só se garante com uma estrutura forte! O Benfica precisa de manter por muitos e bons anos o Rui Costa à frente do Departamento de Futebol. Esta estrutura deve promover a blindagem do balneário através de uma maior política de abertura dos jogadores ao público e de uma filtragem da informação que passa para o exterior (a esse nível, só José Veiga teve o mérito – aliás, o único do seu consulado – de o conseguir). Por outro lado, essa estrutura, que será responsável pela prossecução da política desportiva do futebol, tem de saber agir de forma discreta e rápida, de forma a que o Benfica chegue mais rápido que outros a jogadores interessantes.

Quinto – O treinador deve estar pelo menos 3 a 4 anos no Benfica, sendo que durante esse período temos de estar preparados para que as conquistas sejam poucas e as que existam não podem desviar-nos do objectivo – constituirmos um política de vitórias consecutivas. A impopularidade do que afirmo é, decerto, enorme. Mas venho maturando esta ideia há 2/3 semanas. Nunca fui um fervoroso adepto de Quique Flores, acho que tem uma ideia de jogo engraçada para o futebol espanhol mas sem grande aplicação no futebol português, onde a maioria das equipas se fecha atrás e tem uma estrutura com 3 jogadores no centro do meio-campo, levando a que o Benfica perca, constantemente, a luta no meio-campo e tenha várias dificuldades nas transições, nomeadamente na trasição ofensiva. Para além do mais, o discurso ético, articulado e simples de Quique é excelente mas não bate com algumas declarações como aquela em que afirma que estaria sempre disponível para um projecto em Espanha (esta sim é a declaração mais perniciosa de Quique e não a do 3.º lugar – uma mera constatação de factos). Por isso, acho que o Benfica deve de decidir se continua com Quique por mais uma época ou se contrata um novo treinador que esteja disposto a comandar um projecto de 3/4 anos e que tenha por base uma política de aproveitamento de alguns jovens dos juniores e a contratação de poucos mas bons jogadores a baixo custo (aí é necessária uma boa prospecção de mercado de forma a encontrar essas pepitas, que se encontram quer na América Latina quer em África).

Se me perguntarem sobre o que vai ocorrer no fim da época, respondo que Quique irá sair para o Bétis ou para o Atlético de Madrid e que o Benfica irá vender alguns jogadores que não devia (Cardozo será, infelizmente, um deles) para equilibrar o orçamento. Por mim, vendiam-se alguns jogadores (Katso, Binya, Jorge Ribeiro, Balboa) e não se cometeria a loucura de comprar Reyes (bom jogador mas demasiado caro para os cofres da Luz). Por mim, não se contrataria qualquer GR mas sim um treinador, português de preferência (3 nomes à cabeça – Jesus, Humberto Coelho ou Fernando Santos), que aproveitasse a experiência do Diamantino (remeteria o Chalana para o treino dos juvenis) e desse estabilidade ao Benfica. O plantel seria composto por: Quim, Moreira, Pedro Miranda; Maxi, João Pereira (Braga), Luisão, Miguel Vítor, Sidnei, David Luiz, Sepsi, Ivanir; Ruben Amorim, Carlos Martins, Fellipe Bastos, Aimar, Di Maria, Fábio Coentrão, Freddy Adu, David Simão, Yartei; Cardozo, Nuno Gomes, Nené (Nacional), Makukula. Espero que algumas destas considerações sejam realidades, para que o entusiasmo substitua a desilusão enorme que todos os benfiquistas sentem por mais uma época errática, pois pior do que não ganhar é ter a sensação de que esta época marcou mais um incío em vão.

Saudações Benfiquistas

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Ponto prévio. Sou benfiquista.

Não gostei de ganhar a Taça da Liga desta forma. O Benfica não tem, objectivamente, culpa da incompetência de Lucílio Baptista, esse árbitro medíocre que ainda (?!) se passeia nos relvados portugueses. Todavia, não posso dissociar a conquista deste troféu do penalty inventado pelo árbitro. O jogo até foi engraçado, mais emotivo do que virtuosos, mais pulmão do que técnica. Algumas boas ocasiões (Nuno Gomes, Miguel Vítor, Liedson e Derlei) mas uma agressividade estúpida que deveria ter levado Luisão, Derlei, Reyes e Polga para o balneário, onde pudessem explanar toda a sua impetuosidade. Nos penalties, a lotaria foi angustiante, como sempre, mas é incrível como é que tantos penalties foram tão mal marcados (Katso, Aimar, Postiga). Bravo Quim! 

Passado o jogo, deixo um conselho às pessoas que dirigem o meu clube – deixem-se de insinuações típicas da Coreia do Norte, de estratégias comunicacionais mais dadas à contra-informação, à suspeição e, porque não dizê-lo, à falta de educação e concentrem-se naquilo que é importante para o futebol português – um quadro competitivo mais coerente e estável (I Liga com um mesmo nome durante, pelo menos, 10 anos e composta por 18 clubes; uma II Liga dividida pela zona Norte e pela Zona sul, 10 clubes cada; a 2ª divisão composta por 4 séries de 14 clubes 4, com a subida de 1 clube por série; e a 3ª divisão a manter-se nestes mesmos moldes), uma arbitragem profissional, um futebol mais rápido e mais espectacular, plantéis com um máximo de 25 jogadores, um calendário futebolístico mais coerente, com épocas de maior competição (2 semanas de pausa no natal, criação de torneios de verão oficiais, jogos à quarta e ao domingo em Janeiro e Fevereiro). É nisto que o Benfica se deve concentrar. As tricas em tons de dourado, os comentários relativos ao doping ou os pedidos de auxílio à justiça divina apenas servem para sermos alvo de chacota e para esconder o fracasso do projecto desportivo do Benfica.

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O debate sobre a transformação do futebol numa indústria à semelhança da NBA não é de hoje. O uso das camisolas numeradas de 1 a 11 é um costume centenário interrompido há cerca de dez anos a esta parte, substituído pela numeração de 1 a 99, o que em nada honra esta tradição do desporto-rei. Quando todos começámos a ver futebol sabíamos que o 2 era o lateral-direito, o 6 era o trinco e o 9 o avançado-centro. Fará algum sentido o Ricardo ser o 76, o Baía o 99 ou o Abel o 78? Ridículo.

 

Independentemente de não conseguirmos correr contra os tempos, ainda subsistem alguns (bons) exemplos de luta contra esta tendência. É o caso da obrigatoriedade de registo de dorsais de 1 a 25 na Liga espanhola. Esta medida consegue devolver alguma magia aos números usados pelos jogadores e algum respeito à posição que cada um ocupa dentro de campo. Em Espanha, Canavaro é o 5, Xavi é o 6, Aguero é o 10. Óbvio.

 

Portugal sempre preservou uma forte identidade no seu futebol. Prova disso mesmo é o número restrito de jogadores que vestiram a camisola das quinas que nasceram em território não português, antes da chegada de Scolari à Selecção. Ainda no que toca à numeração, no campeonato português, o nº 12 sempre foi o símbolo da amargura do guarda-redes suplente. O banco de suplentes começava do 12 para o 16. Actualmente, esse simbolismo esmoreceu e os nossos jogadores passaram a envergar o número com orgulho, como se fosse um número especial, uma espécie de camisola mítica do futebol, como acontece noutras ligas europeias. Incompreensível.

 

Camisola 12

 

A tradição da camisola portuguesa sempre atribuiu o privilégio do Campeão ostentar as quinas na manga esquerda. N’O Peão desconhecemos quando terá começado esse ritual, pelo que se algum dos leitores tiver a resposta agradecemos a sua colaboração. Contudo, a magia de poder festejar um golo apontando para a manga esquerda da camisola deixou de ser hipótese para um jogador pelo simples motivo do campeão nacional, FC Porto, ter quebrado essa tradição. Mas terá sido mesmo o FC Porto o responsável? Estamos em crer que a sponsorização dos equipamentos desportivos está a fazer-nos adoptar um modelo que, primeiramente italiano, hoje se tornou global. As quinas encontram-se hoje no meio da camisola entre o emblema do clube e da marca desportiva, à semelhança do scudetto em Itália, e esta particularidade tão lusitana desapareceu da manga esquerda. Infelizmente.

 

Camisola FC PortoMaglia Internazionale

 

Entretanto, o modelo italiano não se esgotou na transformação das nossas quinas num scudetto. Também a introdução das stellas por cima dos emblemas devido ao número de campeonatos ganhos por um clube entrou este ano em Portugal, através das camisolas do Benfica. Aprecie-se ou não a novidade, o certo é que o Benfica não é somente um clube de futebol como a Juventus, o Inter ou o Milan. O Benfica é maior que os italianos porque é um clube eclético, dando cartas em vários desportos para lá do futebol. Neste particular, os clubes portugueses estarão muito mais próximos da realidade espanhola, onde a única coisa que se poderá ver por cima de um símbolo será uma coroa real, conforme a essência, convicção e identidade própria de cada clube. Será que o emblema do Barça usado pelos jogadores de hóquei é diferente daquele que levam ao peito os onze que sobem ao relvado dos estádios a cada jornada? E sentir-se-iam confortáveis os jogadores de baloncesto do Madrid caso vestissem uma camisola com um emblema com 9 estrelas a ostentar as Taças dos Campeões ganhas no futebol? A mesma lógica aplica-se a qualquer outro clube que não viva apenas de futebol. Naturalmente.

 

Camisola Benfica

 

O mercado é global e hoje é tão importante para um clube potenciar receitas como vencer títulos. Mas estas coisas do coração para os adeptos não podem ser trituradas pelo rolo compressor em que se tornou a indústria envolvente ao desporto. No fundo, o futebol é só um jogo, mas um clube é mais do que isso. É toda a sua história, toda a sua alma. Dúvidas existam, perguntem a qualquer benfiquista se não prefere esta camisola à actual…

 

Benfica 1960

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Sporting – Benfica é o derby de Lisboa, de Portugal, o melhor da Península Ibérica. Ontem, 3 -2. Homenagem ao derby, cartas na mesa:

Ás – PAULO BENTO: Raramente o Sporting tem demonstrado esta época tanta consistência no seu jogo. Equipa muito bem armada, homogénea em todos os sectores, Bento conseguiu passar a mensagem da “margem de erro nula” e os jogadores souberam reagir, mesmo quando o Benfica chegou à igualdade. O líder do Sporting demonstrou no derby as suas melhores qualidades como treinador: o jogo de uma equipa depende sobremaneira da força mental que conseguir demonstrar ao longo dos 90 minutos. E a segunda parte foi isso mesmo, uma demonstração cabal daquilo que os Sporting pode fazer este ano, mas que não se percebe muito bem porque não o tem feito…

Rei – LIEDSON: Dez golos em doze jogos ao eterno rival é uma marca que somente está ao alcance dos predestinados. O baiano há muito que mostrou todas as suas qualidades e é pura perda de tempo escrever mais sobre aquilo de que Liedson é capaz. Um golo de antologia e outro excelente golpe de cabeça foram suficientes para caçar mais uma vez a águia, o adversário que Liedson mais aprecia em Portugal.

Dama – PÚBLICO: 45 000 pessoas em Alvalade é um registo que ainda não se tinha visto este ano. A mensagem que a massa adepta leonina passou aos seus jogadores poderá ser a chave para a recta final do campeonato. “Seremos Campeões”, lia-se. A equipa correspondeu.

Valete – CARDOZO: Não se percebe o que se está a passar com Cardozo este ano. O melhor marcador encarnado tem sido relegado para o banco de suplentes, mas sempre que é chamado à equipa corresponde com golos e bom futebol. Entrou tarde, mas voltou a marcar ao Leão.

10 – DERLEI: É um jogador talhado para os grandes jogos. Foi ele quem apurou o Sporting para os oitavos da Champions. Foi ele a chave da eleiminação do FC Porto na Taça da Liga. Foi nele que começou a reviravolta na meia-final da Taça de Portugal nos 5 – 3 do ano passado. É bom que reconsidere o fim antecipado da carreira, ainda tem muito para dar ao futebol.

9 – ROCHEMBACK: O Gordo, que tem deixado os adeptos sportinguistas à beira de um ataque de nervos a cada jogo em que assume o meio-campo defensivo sozinho, foi ontem um jogador à semelhança dos seus melhores tempos. O seu jogo personalizado e a liderança que fez impor à saída da defesa leonina fez de Rochemback o pêndulo do jogo dos Leões.

8 – MOREIRA: É um guarda-redes com valor e nada tem a provar a quem quer que seja. A baliza do Benfica será sua na próxima década. Ontem Moreira é, de todos, o menos responsável pela derrota (que acaba por ser lisonjeira).

7 – AIMAR: É um cigano a jogar à bola. Muitas fitas, faltas sacadas ao adversário, fala mais do que o que joga. O Benfica ainda não encontrou em Aimar o substituto de Rui Costa, muito menos o jogador que se apresentou ao mundo nos tempos do Valência.

6 – QUIQUE FLORES: É um bom treinador, mas talvez desenquadrado daquele que deva ser o perfil de treinador do Benfica. Discurso sem chama, excessivamente sereno na abordagem ao jogo, pouco corajoso. Não se percebe porque Suazo jogou tão desapoiado. Não se percebe porque teima na adaptação de David Luiz a defesa-esquerdo, e muito menos porque deixou sair Leo. Não se percebe porque levou tanto tempo a reforçar a frente de ataque. Não se percebe porque Cardozo não joga mais. As suas substituições revelaram tudo, menos coragem

5 – OLEGÁRIO BENQUERENÇA: O propalado melhor árbitro internacional português fez a sua estreia no derby maior. Vergonhosa a sua falta de coragem para assinalar o penalty de Maxi cometido nas suas barbas. O chapadão de Luizão em Liedson a acabar passou em claro. O tempo de compensação no final de ambas as partas não existiu, sendo ainda mais escandalosa a permissão do anti-jogo sportinguista após o minuto 90.

4 – ANDERSON POLGA: Não está a atravessar um bom momento. A defesa do Sporting vive refém do central porque não há mais nenhum que consiga cumprir com eficácia o papel de Polga: defender, comandar a defesa e sair com a bola a jogar. Num lance escusado – em que tinha a situação controlada –  cometeu penalty sobre Suazo. No lance do segundo golo dos encarnados, deixa Cardozo saltar à vontade.

3 – DAVID LUIZ: É o melhor defesa-central do Benfica, disso ninguém tenha dúvidas. Mas o valoroso jogador teve uma noite para esquecer. Não deverá ser visto como bode expiatório da derrota da sua equipa em Alvalade, mas foi o buraco mais evidente da defesa encarnada.

2 – INCIDENTES: É sempre lamentável registar os incidentes à volta do futebol, mas também acabam sempre por ser incontornáveis num ambiente tão escaldante como naquele que envolve sempre um Sporting – Benfica. Agressões ao roupeiro e um vidro partido no autocarro do clube da Luz são cenas que em nada dignificam aquilo que deve ser a festa do futebol.

Joker – BRUNO PEREIRINHA: Foi a aposta de Bento para acabar com o Benfica. Excelente a forma como entrou no jogo, magnífica a jogada que permite a Liedosn apontar o 3 – 1. Tudo o resto foideleite.

P.S. – Este fim-de-semana o Espanyol foi a Camp Nou vencer o Super Barcelona, com o carrasco a ser Iván de la Peña, produto da cantera do próprio Barça. Enfim… coisas de derby.

AS Cartas do Derby

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Na ronda que hoje se completa, a liderança da Liga de futebol mudou pela terceira semana consecutiva. Aquilo que parecia ser a oportunidade para o Benfica se sagrar campeão de inverno passados quinze anos, gorou-se frente a um Belenenses que começa a parecer-se cada vez mais com a imagem do seu treinador Jaime Pacheco.

Serve isto para atentar numa característica que qualquer leitor já estará mais que habituado a observar: no final do derby no Restelo, o Benfica acabava o encontro com dois portugueses no onze, enquanto nos Belenenses estavam presentes quatro. O somatório dos portugueses que acabaram o jogo apenas chegavam para fazer um banco de suplentes.

Enumeremos os portugueses integrantes de cada plantel. Os dois emblemas lisboetas contam com sete futebolistas portugueses cada: no Benfica são Moreira, Quim, Jorge Ribeiro, Miguel Vítor, Ruben Amorim, Carlos Martins e Nuno Gomes; os Belenenses são Costinha, China, Mano, Cândido Costa, Zé Pedro, Silas e Sérgio Organista. Quanto a jogadores com passaporte brasileiro, o Benfica conta neste momento no seu plantel com seis brasileiros (que, com a saída de Leo, esta nacionalidade passa a representar apenas 20% do plantel encarnado). Porém, do lado dos Azuis do Restelo o caso assume proporções ainda maiores. Este ano já levaram ao peito a Cruz de Cristo 19 jogadores vindos de terras de Veracruz. Com a chegada de Pacheco ao banco dos azuis, saíram do plantel Tiago Schmidt, Vanderlei, Edimílson e Evandro Paulista. Ainda assim, os brasileiros representam 50% do actual plantel belenense!

Vejamos, agora, o seguinte video:

Aquilo a que acabamos de assistir é definido pela Wikipedia, a enciclopédia livre, da seguinte forma: “Pela quarta rodada do Brasileiro de 2008, em partida contra o Náutico, André Luís envolveu-se numa das maiores confusões de sua carreira, terminando na delegacia. Após ser receber cartão amarelo por reclamação pela grande violência exercida pela equipe pernambucana, André Luís cometeu falta por trás em Ruy, e foi expulso. Ao sair de campo, inconformado, o zagueiro chutou uma garrafa de Gatorade, que teria acertado um ou mais torcedores, e mostrou os dedos médios da mão para a torcida adversária e dirigiu-se ao banco de reservas, o que não pode ser feito após uma expulsão. Logo, André Luís foi repreendido por uma aspirante a oficial da Polícia Militar de Recife por ordem do juiz. Ela tentou acompanhá-lo ao vestiário e em seguida dar voz de prisão devido aos delitos cometidos perante a torcida, o jogador impediu-a e fugiu, passando a ser perseguido por uma série de policiais dentro de campo. O jogo foi interrompido já que os atletas do Botafogo foram ajudar o zagueiro. No meio da confusão, ameaças e agressões por parte da polícia, que fez o lateral Alessandro passar mal e vomitar, devido ao suposto uso de gás de pimenta em sua face. Apoiado por Fábio, Renan e pelo amigo e jogador do Náutico Paulo Almeida, André Luís dirigiu-se para a porta do vestiário, que estava trancada. A policial que excedeu sua autoridade dizia prender o jogador por desacato, além dos atos contra a torcida. Como a polícia havia decidido fechar a porta do vestiário devido aos seguranças do Botafogo que queriam invadir o campo por aquele local, a polícia decidiu deter o jogador e retirá-lo do estádio pelo portão de saída da torcida. O presidente do clube, Bebeto de Freitas, tentou ajudá-lo, alegando ser incostitucional a prisão do atleta, que “era tratado como marginal”, ao invés de receber as sanções da Justiça Despotiva, como assevera a legislação brasileira, mas também foi detido por desacato. Na delegacia, André Luís chegou a um acordo para ser liberado, comprometendo-se a doar 25 salários mínimos para o Hospital do Câncer de Recife.”

Porém, aquilo que nós vemos é André Luiz, o mesmo que passou pelo Benfica em 2005, no papel principal de uma cena a que poderíamos chamar, correndo o risco do plágio ao usar uma muito divulgada classificação dos mails que expõem o ridículo do nosso país, de “Brasil no seu melhor“, i.e., uma mistura explosiva de futebolistas, comunicação social e polícia (de choque) que espelham a realidade brasileira.

Segundo o locutor, já Lori Sandri, actual treinador do Marítimo, havia passado em 2007 por situação semelhante. No vídeo vêm-se Paulo Almeida e Carlos Alberto, que vieram do Brasil para Portugal rotulados de craques e voltaram à proveniência, definhando de equipa em equipa, baixando sequencialmente o seu próprio nível. Vê-se também polícia (de choque) a carregar nos adeptos, jornalistas a interrogarem o árbitro no meio do caos, polícia (de choque) a carregar nos futebolistas, invasão de campo dos adeptos, o árbitro serenamente à conversa com jornalistas (em directo para a televisão), André Luiz a injuriar os adeptos adversários, André Luiz a ser ameaçado por Lúcia Helena (uma aprendiz de polícia [de choque]), a polícia (de choque) a levar André Luiz pelo meio dos adeptos (da claque adversária), os jogadores do Botafogo a funcionarem como muralha de protecção a André Luiz, os jornalistas a entrevistarem a polícia (de choque)… enfim.

Quando pensamos em Brasil, lembramo-nos de grandes fantasistas, de artistas capazes de conferir magia ao futebol. Lembramo-nos de Pelé, Garrincha, Romário, Ronaldinho, Rivaldo. A Liga Sagres deve agradecer por poder contar com o contributo de Liedson, Nené, , Hélton, Polga ou Wesley. Tal como nunca se esquecerá de Jardel, Mozer, Valdo ou Ricardo Rocha. Contudo, têm sido raras as vezes em que os clubes portugueses têm acertado nos últimos dez anos no que toca à prospecção do mercado brasileiro. O número de empresários brasileiros que se radicaram entre nós aumentou. O número de figuras como o director-desportivo (ou o que se lhe queira chamar) cresceu e qualquer dirigente do futebol prefere passar uma semana no Brasil à procura de talentos do que embarcar rumo à Bulgária ou Ucrânia em busca do próximo Balakov ou Iuran. Mas isso não se tem repercutido numa vinda dos melhores futebolistas brasileiros para Portugal. Apesar de se encontrarem espalhados pelo mundo, não podemos crer que Wagner Love e Daniel Carvalho estejam mais felizes em Moscovo do que estariam no Porto, ou Brandão esteja mais atraído pela vida que leva em Donetsk do que a que poderia ter em Lisboa.

Quatro equipas da nossa Liga têm mais brasileiros que portugueses nas suas fileiras: Belenenses, Vitória de Setúbal, Naval e Nacional. Braga e Marítimo contam o mesmo número de brasileiros e portugueses no seu plantel. Só nos casos de Académica e FC Porto a percentagem de jogadores brasileiros nas suas equipas é inferior a 20 (sendo que a nacionalidade estrangeira mais representada no caso deste último é a argentina com 28%). Em todos os outros clubes os brasileiros oscilam entre os 20 e os 49%.

Não é novidade para ninguém que o Brasil é o país mais exportador de futebolistas para o nosso futebol. Nem tampouco cabe dissertar-nos acerca das causas que possam estar na origem do espectáculo a que assistimos neste vídeo. Como adeptos do futebol do peão, assumimos a defesa dos melhores valores do nosso futebol. Acreditamos que as fortunas gastas nas contratações  da grande maioria destes jogadores poderiam constituir uma aposta séria e credível naquilo em que temos provado ao mundo ser a nossa melhor vocação: a formação de jovens talentos.

O nosso futebol tem caminhado para um nível em que aquilo que somente escapa à banalidade já é o suficiente para ser bom. É pena. Actualmente um jogador como Rodrigo Tiuí tem lugar no plantel do Sporting, enquanto Silvestre Varela lá vai marcando uns golitos para a salvação do Estrela. Portugal compra (caro) o jogador brasileiro. A qualidade do nosso futebol nem por isso melhora. E, sem consciência, Portugal compra aquilo a que o vídeo nos mostra. Como diria José Maria Pedroto, “um brasileiro é bom, dois começa a ser perigoso e três são uma escola de Samba!”

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Segundo a imprensa o Benfica estará a considerar recorrer à emissão de papel comercial para refinanciar a dívida da SAD e poder voltar a investir no futebol. A parte que caberá ao futebol estima-se em 40 milhões de euros.

A crer nesta possibilidade, muitos poderão perguntar-se como será possível o futebol ainda conseguir obter crédito num tempo em que são os próprios bancos a pedir garantias ao Estado. Crédito para pagar crédito, em ambos os casos. Numa primeira análise, a crise financeira mundial parece manter o futebol numa redoma intocável, onde os seus efeitos não se fazem sentir. No entanto, não parece do interesse de nenhuma das partes, banca e clubes, que o passivo dos clubes continue a aumentar. E o exemplo do Benfica ganha dimensão se a esta notícia acrescermos o (necessário) balanço das contas que marcaram o defeso – aproximadamente 25 milhões de Euros: Balboa, 4 milhões; Aimar, 6,5 milhões; Reyes, 2,65 milhões por 25% do passe; Sidney, 5 milhões por 50% do passe; Urretaviscaya, 2 milhões; Carlos Martins, 3 milhões; Ruben Amorim, 1 milhão (não conseguimos apurar conta pesaram nestas contas as entradas de Suazo, emprestado pelo Inter de Milão, Yebda e Jorge Ribeiro, contratados a custo zero). E com o Benfica (praticamente) fora da Taça UEFA e fora da Taça de Portugal, perspectiva-se nova incursão no mercado de inverno…

VINTE E OITO ANOS DE RIVALIDADE DESPORTIVA

… Ao contrário do vizinho e velho rival da Segunda Circular. Pela voz do seu presidente, o Sporting não parece disposto a aplicar os 10 milhões deu euros angariados na sua inédita campanha na Champions em novas contratações na reabertura do mercado em Janeiro. De facto, as contratações feitas nos últimos anos nesta fase da época apenas têm representado um investimento financeiro sem grandes retornos desportivos. A política do rigor financeiro imposta pelo líder verde-e-branco já permitiu pagar o investimento em Caneira (1,5 milhões de Euros) e Hélder Postiga (2,5 milhões por metade do passe). E o poupadinho Soares Franco, depois da contestada venda de património não desportivo, lá vai amortizando o passivo do clube leonino sem desfazer a promessa de não vender Liedson, Moutinho ou Veloso. Para aqueles que têm presente a certeza de que no futebol “o que hoje é verdade amanhã é mentira”, Franco tem conseguido angariar algum capital de confiança. E o Sporting, apesar de prematuramente afastado da Taça de Portugal, lá continua em todas as frentes apesar da evidente falta de militância por parte da sua massa associativa.

Para os lados de Lisboa os ventos parecem correr em direcções diferentes. Desta análise, apenas uma certeza: deste choque de políticas de gestão resultará um terramoto desportivo para um dos rivais, no longo prazo. Só resta saber qual sairá vencedor deste derby financeiro.

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Esta semana, na sua habitual análise ao mundo do futebol, Jorge Valdano surpreendeu. Qualquer leitor das suas crónicas estará acostumado a ler sobre as virtudes dos fantasistas, dos magos da bola, dos habituais números 10 ou dos pontas-de-lança que dão espectáculo. Mas Valdano surpreendeu porque reduziu o papel de todos os virtuosistas ao nível a que, efectivamente, lhes é merecido dentro do próprio jogo. Senão, recordemos as suas palavras:

O futebol é complexo de mais para se pretender ter razão. Atentemos na actualidade do Milan nas últimas semanas. Numa equipa que conta com Pirlo, Pato, Ronaldinho, Kaká e outras estrelas cintilantes, lesionou-se Gattuso há três semanas e, desde então, perdeu os quatro jogos que disputou. É como se um palácio com toda a nobreza lá dentro não fosse nada sem a presença do canalizador. Estes são os mistérios deste maravilhoso jogo.”

Em boa verdade, o Milan de hoje não é o Milan campeoníssimo a que nos habituou desde os anos 80. O clube de Rivera deverá rever a sua política de contratações, deixando de comprar quase em exclusividade jogadores experientes mas velhos demais – como se anunciou recentemente com o nome de David Beckham -, antes olhar para os bons valores da Serie A italiana – como foram em tempos as contratações de Gattuso ou Inzaghi – e, acima de tudo, para a sua melhor experiência: a cantera.

Gattuso

O Milan de Sacchi ou de Capello assentou a sua força em valores provindos da formação e projectou provavelmente a melhor equipa do futebol moderno a partir de um eixo defensivo que mais de assemelhava a uma muralha intransponível formada por nomes como Tassoti, Baresi, Costacurta ou Maldini. Ou por outras palavras, meninos que se fizeram homens da casa e souberam fazer sentir a importância de vestir a maglia rossonera a jogadores que vieram de outras partes do mundo e que devem o seu nome no futebol à custa do sucesso do próprio clube, como será o caso dos holandeses Van Basten, Rijkaard e Gullitt, mas também Shevchenko, Weah ou Savicevic.

Porém, a observação de Valdano vai muito além do futebol actual do Milan. O antigo médio do Madrid foca a importância de um médio defensivo na construção do futebol de ataque. Por mais criativos que o Milan possa ter, e independentemente da indiscutível qualidade de cada um deles, o seu jogo necessita de ser apoiado pelo generoso Gattuso. O papel do trinco é essencial, tanto a destruir o jogo adversário como sendo o primeiro jogador a lançar o ataque, e quando o mesmo não existe a máquina não funciona. Qualquer equipa que aspire à conquista de títulos não pode apresentar um meio-campo que jogue exclusivamente de pantufas, e para comprovar este princípio basta atentar em qualquer meio-campo de uma equipa organizada por Mourinho.

Subjacente ao pensamento de Valdano, está naturalmente a noção de equilíbrio. Naturalmente não nos compete teorizar sobre isso, antes detectar e opinar sobre a sua pertinência. E, na verdade, qualquer interveniente neste espectáculo que é o futebol, desde o treinador mais consagrado ao adepto mais desatento, gosta de ver um Gattuso na sua equipa. Aparte das recentes derrotas do Milan, pense-se, por exemplo, no caso do Benfica e das dificuldades de Quique tem sentido em definir o eixo defensivo do meio-campo encarnado, depois da partida do patrão Petit: Carlos Martins e Yebda? Katsouranis e Ruben Amorim? Qualquer uma das propostas ficará refém da assunção do papel do verdadeiro trinco na sua plenitude. Será por isso que ainda nenhum dos últimos responsáveis técnicos terá ainda afastado Binya?

Luís Vidigal está de volta aos relvados nacionais, regresso bastante saudado pelo Peão. Desde que chegou ao Estrela que tem vindo a ser considerado o melhor em campo com regularidade, mantendo a marca inédita de apontar um golo a cada 212 minutos. Nada mal para um jogador de quem em tempos tanto se questionou a sua utilidade  – começando pelos próprios dirigentes leoninos – e a sua presença na Selecção Nacional durante o Euro 2000. Vidigal levanta algumas interrogações mesmo estando aos 35 anos a cumprir os seus últimos dias como futebolista. Este antigo campeão pelo Sporting formou com Duscher um meio-campo que muitas boas recordações terá deixado aos adeptos sportinguistas. E observando à lupa o meio-campo do Sporting actual não se vislumbra nenhum jogador com a capacidade de luta e destruição de jogo do estrelista. Apetece perguntar: quão mais renderiam os príncipes Moutinho ou Miguel Veloso jogando hoje ao lado com um qualquer canalizador chamado Vidigal?

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