Não deixa de ser estranho que na predisposição de Paulo Bento tenha havido um volte-face. Ele que havia já concluído há cerca de um ano que no final da época passada se fechava um ciclo.
A tirada de JEB com um “Paulo Bento forever” só poderá ser entendida por duas razões. Primeiro, na assunção de que se trata do único funcionário do clube com perfil para o defender na praça pública, ie, veja-se por exemplo o modo como defendeu a equipa na noite da roubalheira da Taça da Liga ou quantas vozes se levantaram contra a mais recente arbitragem em jogos da UEFA em Alvalade. Segundo, a direcção – cumprindo escrupulosamente o desígnio da contenção orçamental – continua a apostar num modelo semelhante aos gloriosos “Busby Babes” fazendo crer que PB é o homem certo para fazer vingar a crença que Veloso, Montinho, Pereirinha, Patrício, Carriço ou Adrien estão no caminho certo para construir uma equipa fortíssima e que leve o SCP à hegemonia do futebol nacional por vários anos.
Poderá, eventualmente, haver alguma lógica nesta aposta. Porém, PB – treinador campeão dos juniores em 2005 – é um responsável técnico com quatro anos de treinador principal e com um plantel muito bom, contrariamente ao que a comunicação social quer fazer crer. Mas enquanto o Sporting lhe tem vindo a pagar a licenciatura, tem falhado em demasiados exames. Paulo Bento é o treinador dos 7 pecados mortais:
1. Campeão pelo Sporting em 2002, o nº 17 jogava como o trinco distribuidor de jogo – à semelhança de Veloso no Sporting de hoje -, com a rectaguarda fechada pelos centrais e um trinco mais defensivo, fosse ele Rui Bento ou Diogo, num esquema de 4-5-1, que por vezes abria em 4-3-3, tendo sempre Jardel jogado sozinho na área, coadjuvado por João Pinto que ocupava o espaço mais adiantado do nosso meio-campo. Já no Sporting Campeão de Portugal em 99/2000, foi assim com Duscher e Vidigal no miolo e Acosta sozinho na frente. Na selecção nacional, não me lembro alguma vez de ver PB jogar numa equipa com dois pontas-de-lança. Mais, no Euro’2000, PB jogou com Vidigal contra Inglaterra e Roménia, trocando de parceiro contra a Turquia (Costinha). Nas restantes equipas por onde passou – note-se, sempre mais pequenas e por ora mais defensivas – não me lembro de PB segurar o meio-campo defensivo sozinho. Como se pode explicar porque razão joga Veloso sozinho nesta posição, zona do terreno onde o Sporting já levou mais de 50% dos golos esta época? Falta um tinco para dar porrada, mas ainda existe Caneira ou Tonel para este trabalho – sujo – mas imprescindível.
2. Isto leva-me à segunda pergunta: porque a insistência em encontrar um parceiro para Liedson? A frente de ataque das equipas campeãs pelo Sporting em 2000 e 2002 jogavam sempre com um ponta-de-lança de rferência, cuja única função era a de finalização. No Sporting de PB os jogadores desta zona são também eles construtores de jogo. Liedson tem disfarçado este problema desde que o Sporting joga em losango, mas a verdade é que o baiano deveria ser um animal de área e usar o seu voluntarismo para a zona de finalização.
3. Vukcevic é um jogador triste. Não que a sua natureza futebolística seja triste, muito pelo contrário, mas é claramente um jogador à imagem dos anos 80. Lento, mas técnicamente evoluído, Vukcevic é um jogador para jogar atrás de Liedson e nunca para ocupar o terreno de Izmailov. Já marcou grandes golos de fora da área, porque é dos poucos que chuta à baliza. A sua qualidade de passe é tremenda, mas não tem velocidade para ir à linha e cruzar para a área – onde quase nunca há uma referência. Não é nenhum extremo, muito menos um interior. De carácter irascível, Vukcevic já o deu a entender em público mas foi dentro de campo que há muito que explicou a natureza deficiente que PB reservou para si neste Sporting. Vuk é daqueles que precisa de um Robson para espremer todo o seu potencial.
4. Quem é Bruno Pereirinha? Um jogador banal, decerto. Sem despontar, prima pela sua regularidade. Um jogador certinho, portanto. Nunca será o médio-direito que pensou poder vir a ser quando subiu a sénior. Deveria ter feito (tal como Adrian e Patrício) um trajecto à Bruno Alves: ir ganhar experiência pelos Farenses e Guimarães para aos 25 ter categoria para servir o Sporting. Não foi assim, e neste percurso titubeante como sénior, Pereirinha lá vai conquistando o lugar moral de ser o único defesa-direito de jeito no plantel. E será, tal como Patrício, um grande jogador do Sporting, uma grande referência do clube, no dia em que completar uma época com todos os jogos a titular na lateral direita da equipa.
5. Europa. Pode-se afirmar o mérito de PB ter colocado o Sporting sempre na Champions. Não o vou diminuir em momento algum, mais que não seja por termos ficado à frente dos lampiões (E NÃO DIGAM QUE NÃO, PORQUE DÁ-NOS SEMPRE IMENSO GOZO). Mas as contas fazem-se no fim e o que vimos na época passada foi isto: 5 do Madrid (Torneio Bernabéu), 5 do Barça, 5 e 7 do Bayern. Um ano antes Jorge Jesus saíra de Munique com o Belém com apenas 1-0 na mala e o ano passado levou o Braga para jogar olhos nos olhos com o Milan, perdendo 1-0 num jogo onde chegou a enxovalhar este colosso europeu. Sim, Jorge Jesus, esse Leão d’Ouro, 50 anos de quotas pagas que tinha acordo com Luís Duque na campanha eleitoral…
6. Gosto da rotatividade nas equipas. O Barça este ano estará presente em seis torneios oficiais, o que mostra essa necessidade. O Sporting, ao fim de seis jogos, estará presente em três. Mas este não é um conceito que se aplique ás nossas primas-donas Polga, Moutinho ou Liedson.
7. Laboratório. Este é um tema que melhor espelha o cunho de um treinador numa equipa. Sempre que o árbitro marca uma falta, o Sporting recua um metro do lance onde ela aconteceu. O Sporting não tem jogadas ensaiadas. O Sporting não sabe bater os cantos. O Sporting não define jogadores para marcar os foras. O Sporting não sabe bater penaltis. O Sporting não marca um golo de livre… Não se sabe quem é o marcador ofical de coisa-nenhuma. E depois não há jogadores matreiros, daqueles rufias à Porto que conseguem enervar adversários e influenciar jogos, Escola Octávio.
Gosto imenso do Paulo Bento e nunca vi nenhum treinador defender tanto o meu clube como este senhor. Talvez a aposta de Franco tivesse sentido se trocássemos cadeiras e PB fosse antes o nosso director do futebol. Mas numa coisa, ele tem razão: “fechou-se um ciclo”. Pena que tenha sido para o Sporting… a ver vamos.