Ponto prévio: a meia-final da Champions em Stamford Bridge foi uma mentira. Nunca se vira uma arbitragem tão má como aquela a que se assistiu ontem na recepção do Chelsea ao Barcelona, e a UEFA não poderá deixar passar impune o árbitro Tom Henning Ovrebo pela sua péssima intervenção. Segundo algumas opiniões, Ovrebo deixou passar em claro quatro (!) grandes penalidades a favor dos londrinos quando o resultado se encontrava 1 – 0.
Da noite de ontem muito se poderá dizer. Apesar da injustiça do resultado foi bonito ver Guardiola abraçar Hiddink numa fase em que os culés já começavam a entrar em desespero. Guardiola é um caso à parte no mundo do futebol, uma espécie verdadeiramente rara e em vias de extinção. Nunca esperem de Guardiola um comentário despropositado, uma postura arrogante ou qualquer comportamento leviano. O catalão é um Senhor no mundo da bola, daqueles que parece que a sua formação de base nem é o futebol, capaz de tecer as mais acertivas observações sobre a política, a arte ou a escrita. O que só por si, permite explicar o fascínio que esta personalidade encerra no mundo do barcelonismo.
Hiddink provou uma vez mais o seu verdadeiro estatuto: ele está no top 5 dos melhores treinadores do mundo, juntamente com Ferguson, Capello, Trapattoni e Mourinho. O jogo em Camp Nou foi uma lição de como parar o super Barça no seu reduto que Juande Ramos deveria ter analisado com mais atenção. E ontem apenas terá sido traído pelo milagre de Iniesta (não contando com o árbitro, como já referimos) quando todos já pensavam num bilhete da British Airways para Roma.
Na verdade, a meia-final entre Chelsea e Barcelona poderá ser vista à luz de outras variáveis que fazem o presente do desporto-rei. Se Chelsea poderá considerado a maior porta-voz das equipas construídas na base do dinheiro (leia-se petrolibras de Romam Abramovich), o Barça será seguramente o exemplo acabado de que o futebol é um desporto colectivo em que outras motivações podem falar mais alto. O dinheiro pode comprar os melhores praticantes da modalidade e juntá-los numa super equipa; mas também não é menos verdade que o amor à camisola, a aposta na juventude e o espírito de conquista suportado por um ideal – como será o caso de representar uma região com a identidade da Catalunha – combinado com o trabalho exigido a qualquer plantel profissional poderá superar a força do capital. E, se pensarmos que Guardiola afastou Deco e Ronaldinho no começo da temporada, nessa matéria o Barça 2008/2009 dá lições de moral a qualquer outro clube europeu.
É, portanto, com regozijo que vejo o Barça atingir a final da Liga dos Campeões. Da mesma forma que vibrei de alegria com a histórica cabazada com que os blaugrana afundaram o todo-poderoso Real Madrid em pleno Barnabéu. Marcar 6 golos ao colosso de Madrid não é para todos e este Barça faz sonhar. Depois do Dream Team de Cruyff estaríamos longe de saber que haviamos de aguardar pelo mais novo dos seus discípulos para vermos o melhor futebol praticado nesta década regressar precisamente ao seu ponto de partida. Como afirmou Luis Henrique, o que se passou no Barnabéu “foi um orgasmo futebolístico“. Mérito de Guardiola.
Numa liga que presta vassalagem ao futebol blaugrana, o rival Madrid prepara o seu futuro pela mão do futuro (ex)presidente Florentino Pérez. Para não voltarmos à recorrente hipótese de Cristiano Ronaldo voar para a capital espanhola, vejamos outros exemplos: Villa afirma que “Florentino liga quatro ou 5 vezes por dia”. Hoje é Ribéry quem centra as atenções, que usará Zidane como intermediário para chegar a Chamartín. Em Itália fala-se da saída de Ibrahimovic, que o Inter poderia negociar por 50 milhões mais a cedência de Higuaín. A este respeito, também já se havia ouvido a troca com Samuel Eto’o, o ponta-de-lança que não molhou a sopa nos 6 do Barnabéu, mas ingressando ao invés no rival Barcelona. Enfim, ainda nem a época acabou e já o Verão começou para os merengues.
Por cá, tudo como dantes, no quartel de Abrantes. FC Porto passa no Caldeirão e tem título à vista, Sporting apanhado no teste depois de queimar as fitas em Coimbra e Benfica a tropeçar mais uma vez neste cortejo Nacional. Pelo quarto ano consecutivo que FC Porto é campeão e Sporting vice. O Belenenses pode ter reservado o bilhete de segunda na sua última viagem.
Nota ainda para o ponta-de-lança leiriense Carlão, autor de um poker contra o líder Olhanense antes do embate dos algarvios com o Santa Clara. Não percam as cenas dos próximos episódios. A Segunda está mais excitante que nunca!
Juande Ramos bem podia ver o Chelsea as vezes que quisesse que nunca o poderia imitar. Pura e simplesmente não tem equipa para o fazer.
Quanto a Florentino, e como diria Rui Veloso, nunca voltes aonde já foste feliz… Não me parece que o modelo galáctico possa ser reciclado.